domingo, 14 de outubro de 2012

Daquilo que me preenche

Amor – pois que é palavra essencial

Amor – pois que é palavra essencial comece esta canção e toda a envolva.Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,reúna alma e desejo, membro e vulva. Quem ousará dizer que ele é só alma?

Quem não sente no corpo a alma expandir-se até desabrochar em puro grito de orgasmo, num instante de infinito? O corpo noutro corpo entrelaçado,fundido, dissolvido, volta à or
igem dos seres, que Platão viu completados: é um, perfeito em dois; são dois em um. Integração na cama ou já no cosmo?Onde termina o quarto e chega aos astros?Que força em nossos flancos nos transporta a essa extrema região, etérea, eterna? Ao delicioso toque do clitóris, já tudo se transforma, num relâmpago. Em pequenino ponto desse corpo,a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens e devassando sóis tão fulgurantes que nunca que a vista humana os suportara, mas, varado de luz, o coito segue. E prossegue e se espraia de tal sorte que, além de nós, além da própria vida, como ativa abstração que se faz carne, a idéia de gozar está gozando.
E num sofrer de gozo entre palavras, menos que isto, sons, arquejos, ais ,um só espasmo em nós atinge o clímax: é quando o amor morre de amor, divino.Quantas vezes morremos um no outro, no úmido subterrâneo da vagina, nessa morte mais suave que o sono: a pausa do sentido, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses, entendidos na cama, qual estátuas vestidas de suor, agradecendo o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

Carlos Drummond de Andrade.

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